Incubadora Cultural e Instituto do Livro: uma parceria em prol da educação e da leitura

Escritora, historiadora, angelóloga e produtora cultural, Cristiane Framartino Bezerra, atual superintendente da Fundação Instituto do Livro de Ribeirão Preto, deixa seu depoimento ao Projeto Incubadora Cultural. O Instituto do Livro, que tem o objetivo de fomentar a difusão do livro, leitura, estimular a criação literária, é uma importante apoiadora que vem contribuindo (e muito), por intermédio da Prefeitura Municipal, para a viabilização das edições dos livros produzidos para o concurso literário do projeto. Anualmente, para o projeto de Ribeirão Preto é organizado um concurso literário, e a partir de um tema selecionado são reunidos trabalhos com textos, poesias, ilustrações dos jovens estudantes da rede pública e privada de ensino. Como resultado desse concurso, e o apoio de diversos segmentos da sociedade, públicos e privados, é editado um livro que contempla todos os trabalhos dos alunos.

Tributo a Antônio Diederichsen

Por Rui Flávio Chúfalo Guião*

Antônio Diederichsen nasceu em São Paulo, no dia 01 de agosto de 1875, filho de Bernardo Diederichsen e Ana Cândida Rocha Leão Diederichsen. Seu pai era soldado do exército prussiano na primeira guerra entre esse país e a Dinamarca, pelo controle do Ducado de Schleswig. Terminadas as hostilidades, Bernardo decide seguir os passos de vários parentes, inclusive os de uma irmã e emigra para o Brasil. Aqui, trabalha em Santos, Campinas, Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde conhece Ana Cândida, filha de cultivadores de fumo nas fraldas da Mantiqueira, com quem se casa. O casal decide se mudar para São Paulo, onde compra a Fazenda Morumbi − hoje uma das regiões mais valorizadas da capital − para o plantio de chá e uva.

Antônio faz a maior parte de seus estudos na Alemanha e retorna ao Brasil com o diploma de Engenheiro Agrônomo. Logo é convidado para recuperar a Fazenda Desengano, em Batatais, de propriedade de seu primo Arthur, totalmente degradada. Em dois anos, torna-a um modelo de propriedade. O trato com o café e o contato com os fazendeiros, concretizam em Antônio a potencialidade de Ribeirão Preto.

No ano de 1903, a filial local do Banco Construtor e Auxiliar de Santos é decretada falida e Diederichsen arremata o acervo, composto do quarteirão entre as ruas Saldanha Marinho, José Bonifácio, Américo Brasiliense e São Sebastião, onde se localizavam uma serraria, oficina mecânica e fundição.

Como tem pouco conhecimento da manipulação da madeira, convida o alemão João Hibeln, administrator da filial, para seu sócio e no dia 20 de outubro de 1903 surge a Diederichsen & Hilbeln, embrião do Grupo Santa Emília, que comemora 120 anos de existência neste mês.

Diederichsen é um trabalhador incansável. Abre seu estabelecimento às 6h e o fecha às 21h.

Menos de um ano após a constituição da firma, começa a demonstrar seu interesse pela comunidade e, à frente de vários comerciantes, funda a Associação Comercial ,no dia 08 de agosto de 1904.

Em 1911, um evento vai influenciar a vida de Antônio Diederichsen: a chegada a nossa cidade de Manoel Penna. Órfão de pai e mãe logo cedo, tendo de trabalhar para se manter, Penna decide abandonar o Vale do Paraíba paulista e dirige-se a Ribeirão Preto, onde consegue emprego na Diederichsen & Hibeln. Dono de enorme vontade de progredir, Penna faz meteórica carreira na firma, tornando-se o braço direito e sócio de Antônio Diederichsen.

Nos anos 1914, com o crescimento da firma, Diederichsen compra 30 mil metros quadrados de terreno na Vila Tibério, para ali transferindo a serraria, fundição, oficina mecânica e fábrica de parafusos para madeira. É o ano em que estoura a primeira Guerra Mundial.

Como Hibeln é germanófilo declarado e passa a insultar os brasileiros, a sociedade chega ao fim e Diederichsen se torna único proprietário da firma.

Em 1922, Diederichsen e Penna decidem trazer automóveis Chevrolet para nossa cidade, criando assim a primeira concessionária do grupo e um pioneiro posto de serviços.

Em 1929, depois de a empresa se tornar o maior empreendimento comercial da cidade, ocorre a quebra da Bolsa de Nova York. Os fazendeiros dormem ricos e acordam pobres, pois não há dinheiro no mundo para comprar nosso café. No ano seguinte, a Revolução de 1930 apeia os coronéis do café de seu poder político. A cidade entra em marasmo.

Para ajudar o retorno do progresso da cidade, Diederichsen constrói, com recursos próprios, o prédio que levaria seu nome, na rua Álvares Cabral, prédio que doaria a Santa Casa, em seu testamento. Nos anos 1950, decide elevar o primeiro edifício alto da cidade, o Umuarama, especialmente construído para ser hotel.

Todas as grandes obras de Ribeirão Preto tem o apoio e financiamento de Diederichsen: a reforma para acolher a Faculdade de Medicina na antiga Escola Prática de Agricultura, a Cava do Bosque, a construção do Pavilhão Tinoco Cabral, da Santa casa,o Abrigo Ana Diederichsen para tuberculosos.

Antônio Diederichsen morre em 01 de outubro de 1955, deixando à cidade um legado de trabalho e benemerência e um conglomerado de empresas que comemora neste ano 120 anos de existência.

*Rui Flávio Chúfalo Guião é advogado, empresário, presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e secretário-geral da Academia Ribeirão-pretana de Letras.

Educação brasileira contemporânea: ensino, avaliação e formação de Professores

Por Luiz Carlos Moreno

“O poder e a capacidade de aprender já existem na alma”.
(Platão, A República, livro VII)

Nosso entendimento, dentro da normalidade física e mental, temos a possibilidade de aprender. Resta-nos questionar: queremos?

  • A vida já nos ensinou que só querer não basta. Aprendizado é a combinação de sentimento, raciocínio e ação.
  • Aquilo que sentimos determina não somente o que pensamos, mas como pensamos.

Como Professores de diversos níveis, até a formação de Professores, ─ e aprendizes que continuamos ─ pudemos aprender alguns caminhos para o aprendizado:

  • O que você quer aprender? (Ambição / motivação).
  • Você acredita que é capaz? (Otimismo).
  • Como os outros podem ajudar-lhe? (Empatia).
  • Esse aprendizado está de acordo com seus valores e crenças? (Integridade).
  • Qual é o seu estilo de aprendizagem? (Autoconsciência).

O seu aprendizado deve estar conectado com os seus objetivos:

  • A T I N G Í V E I S: certifique-se de que é possível.
  • E S P E C Í F I C O S: devem ser importantes, não grandes demais.
  • M E N S U R Á V E I S: como saber se atingiu?
  • R E C U R S OS: o que você precisa?
  • T E M P O: quando terá alcançado?

Assim como esses mesmos OBJETIVOS tem de ter conexão profunda com as suas MOTIVAÇÕES:

  • São POSITIVOS?
  • Conduzirão ao sucesso DESEJADO?
  • Estão sob seu CONTROLE?
  • Qual EFEITO eles terão?
  • Eles lhe farão SEGUIR seus passos no futuro?

Nossas atitudes, costumes e crenças são todos autodidáticos. Não nascemos com eles. São aprendidos…Portanto, podemos assumi-los, administrá-los e direcioná-los. Ou, deixar rolar, aí, não sabemos onde vai…

As bases do nosso aprendizado são:

  • Ambição e motivação
  • Autoconsciência
  • Empatia
  • Integridade
  • Otimismo

NOSSOS NÍVEIS DE APRENDIZADO:

  • AMBIENTE = o “quando” e o “onde”.
  • CAPACIDADE = o “como”.
  • COMPORTAMENTO = o “quê”.
  • CRENÇA = o “porquê”.
  • IDENTIDADE = o “quem”.

CONSTATAÇÕES / PROVOCAÇÕES:

1] Alguns alunos não estão interessados no aprendizado.
2] Muitos estudantes não tem metas nem idéia alguma porque estão na situação de aprendizado.
3] O conceito que o estudante tem do professor não é objetivo – é totalmente positivo ou totalmente negativo.
4] Poucos estudantes são objetivos com relação aos seus talentos.
5] Suas capacidades de aprendizagem são variadas.

É o que temos!

O CAMINHO DO APRENDIZADO / DA EDUCAÇÃO CONTINUADA:

  • Assume responsabilidade e não culpa.
  • Considera o ponto de vista do outro.
  • Criativo.
  • Curioso.
  • Faz perguntas poderosas para si mesmo(a)!
  • Flexível.
  • Inovador.
  • Motiva a si mesmo!
  • Pensa com perguntas.
  • Sabe o que é necessário fazer e faz.
  • Torna-se uma pessoa assertiva!
  • Valoriza o não-saber.

“O futuro não é um lugar para onde estamos indo, mas um lugar que estamos criando. Os caminhos para ele não são encontrados, mas criados, a atividade de criá-los muda tanto o feitor quanto seu destino”.
John Schaar (1928 – 2011), futurista

“Existem três tipos de pessoas: as que deixam acontecer, as que fazem acontecer e as que perguntam “o que aconteceu?”
John Richardson Jr (1921 – 2014) Secretário de Estado Adjunto dos Estados Unidos para Assuntos Educacionais e Culturais de 1969 a 1977.

De fato, assumimos esses pensamentos, ensinamentos e aprendizagens. Depois, não muito depois, talvez até simultaneamente, a vida em comunidade, no mundo do trabalho vem nos cobrar tudo isso que aprendemos ou, que deveríamos ter aprendido, chamando então de competência ou domínio. E a vida só nos cobrará.

*LUIZ CARLOS MORENO. Pedagogo. Especialista em Educação. Exerceu a docência e coordenação em cursos superiores e de pós-graduação. 35 anos em empresas de médio e grande porte sempre na área de Desenvolvimento Humano. Tem especialização em Filosofia e Ensino da Filosofia (2012); em Didática do Ensino Superior (2004); em Administração da Educação (2002); em Gestão Estratégica e Qualidade (2005). Membro da Academia Ribeirão-pretana de Educação – ARE., cadeira 17, empossado em dezembro 2007. Presidente no exercício 2010 – 2012; reeleito para a gestão 2012-2014; gestão 2014-2016; gestão 2016-2019.

Este artigo foi apresentado durante a mesa-redonda “Educação brasileira contemporânea: ensino, avaliação e formação de professores”, com as participações de Elaine Assolini, Meire Pedersoli, Luiz Carlos Moreno e Marlene Trivellato. O debate foi promovido durante a programação da 22ª Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto, no auditório Pedro Paulo da Silva (Centro Cultural Palace), no dia 14 de agosto de 2023.

Lançamento do livro “Incubadora Cultural: Fincar os pés” (2022)

No dia 18 de novembro de 2022, foi realizado o lançamento do livro do Projeto Incubadora Cultural Ribeirão Preto: “Fincar os Pés”, organizado por Camilo André Mércio Xavier, escritor e docente aposentado da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP; e pelas professoras Filomena Elaine Assolini, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e Heloisa Martins Alves, da Escola Estadual Otoniel Mota.

A obra reúne a produção literária de alunos do ensino médio de escolas públicas e privadas, com o objetivo de incentivar a leitura e a escrita entre os jovens.  Criado em 2013, o projeto é idealizado por Camilo Xavier, com apoio de Elaine Assolini e Heloisa Alves, que são os organizadores da obra.

Escola Estadual Otoniel Mota: Gratidão e devolutiva social

Ex-alunos compartilham a emoção em poder contribuir com a escola onde estudaram

Camilo Xavier e Luiz Octavio, dois ex-alunos gratos à educação que receberam na Escola Otoniel Mota.

Os anos 1940 e 1950 são respectivamente quando Camilo Andre Mercio Xavier e Luiz Octavio Junqueira Figueiredo entraram no Instituto de Educação “Otoniel Mota”. Essa foi uma época na qual o analfabetismo abrangia cerca de 50% da população acima de 15 anos e as escolas secundaristas eram escassas. Aqueles que terminavam o primário precisavam se submeter ao exame de admissão para entrar na próxima etapa escolar, que durava quatro anos. Depois disto, era necessário escolher entre o científico, o clássico ou normal. Este último era destinado às meninas que seriam professoras primárias e aguardavam para se casar.

Camilo e Luiz Octavio seguiram o caminho do científico. Em comum estes dois homens também compartilham a certeza que devem muito à escola pública onde estudaram, hoje chamada de Otoniel Mota. Por meio do conhecimento, do contato com os professores e da construção de amizades, moldaram uma parte importante dos seus valores. Principalmente, ficou neles a crença que a educação é transformadora. Quando bem orientada, ela forma não apenas profissionais, mas pessoas completas, cidadãos inseridos de forma plena na comunidade em que vivem.

Este é o caso do Dr. Camilo André, ortopedista, formado pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre nos anos 1950, e professor titular aposentado da cadeira de Ortopedia e Traumatologia e de Bio-Engenharia da USP de Ribeirão Preto. Médico e poeta, ele acumula prêmios literários e acredita na cultura e na leitura como a base para a formação escolar.

No Otoniel Mota ele afirmou ter recebido aconchego e crescimento intelectual. Foi membro do centro acadêmico e participou das atividades culturais da escola, que considerou ter sido uma alavanca que lhe deu condições para avançar na vida. Dos professores, Camilo lembrou serem “pessoas relevantes na sociedade” ribeirãopretana, com eles obteve uma “ponte cultural”.

Edgardo Cajado foi o primeiro a vir em sua memória. Médico por mais de 30 anos, ele foi diretor do Gynásio do Estado entre 1931 e 1954. Camilo o descreveu como uma figura exigente, temida, mas que marcou profundamente sua vida. Lembrou, inclusive, de ter sofrido “algumas penazinhas” aplicadas pelo médico-diretor. Outro que saltou em sua memória foi Dr. Paulo Valentie de Oliveira, ginecologista formado na França, lecionou ciências naturais, mas também era um apaixonado por fotografia, tendo sido parte do primeiro grupo do Cine Foto Clube de Ribeirão Preto. Romero Barbosa, que também foi diretor entre 1965 e 1968, foi descrito como “figura efusiva, que contava grandes histórias”. Com os olhos brilhando e um sorriso, de repente Camilo voltou a ser adolescente. À mente vieram as poesias decoradas e recitadas para a professora de espanhol, “uma graça como mulher”, que todo o grupo de meninos admirava.

Camilo Xavier leva literatura à Escola Otoniel Mota.

Depois de uma vida estudando em escola pública, o professor Xavier, como é conhecido, afirmou que precisava “retribuir de alguma forma” tudo o que recebeu. E a sua retribuição veio com a iniciativa de dois projetos: a Arca Cultural e a Incubadora Cultural. “Tudo que faço entra dentro de uma malinha que eu levo de mão”. É assim que Camilo Xavier descreve a sua devolutiva social para os alunos da escola Otoniel Mota.

Em 2010, quando era presidente da Academia Ribeirãopretana de Letras, ARL, inaugurou o projeto da Arca Cultural em um stand no Palace Hotel, na Feira do Livro daquele ano. Posteriormente transferida para o Otoniel Mota, a Arca começou com a exposição de obras de escritores de Ribeirão Preto para conhecimento e consulta por parte dos alunos. Também passaram a ocorrer palestras dos membros da ARL. Contribuindo para formação humanística dos estudantes, tornou-se um projeto itinerante com acervo de escritores ribeirãopretanos.

Em 2014, Camilo, junto com outros idealizadores, entre eles, Heloísa Martins Alves, Elaine Assolini, Alberto Gonçalves e Alexandre Salgado, lançaram a “Incubadora Cultural”. O projeto foi concebido para o público jovem em parceria com a escola Otoniel Mota e a Faculdade de Medicina da USP. A ideia começou com um concurso de textos com o tema “cultura”. “Eu sempre quis mostrar que é possível as universidades, que as vezes são um pouco isoladas, conseguirem trabalhar junto com a coletividade, eu acho que falta um pouco esse tipo de interação”. Foi com essa certeza que o projeto foi desenvolvido, tendo como resultado a publicação de um livro, divulgando os textos e artes visuais produzidos por alunos e professores do Otoniel.

Para o médico-poeta a escola precisa ser encarada pela comunidade como um bem de todos, porque ela é o “templo da educação”. Um pertencimento que ele tem certeza que deve ser fortalecido com a participação das pessoas na vida da escola das mais diversas formas.

Essa também é a opinião de Luiz Octavio Junqueira Figueiredo. Formado em agronomia pela Esalq, USP, ele é um dos principais empresários do ramo agroindustrial da região de Ribeirão Preto. Nascido nos anos 1940, ele entrou para o então Instituto de Educação Otoniel Mota com 11 anos, em 1954, e saiu em 1960. A escolha foi definida pela certeza que essa era a “melhor escola de Ribeirão Preto”, reunindo um “corpo docente e discente extraordinário”. Para ele, era um exemplo de escola que incentivava a dedicação e o esforço dos alunos, por meio de uma disciplina rígida e de professores exigentes.

Entre eles estavam Lucy Musa Julião e Florianete de Oliveira Guimarães. Esta última foi considerada responsável por ter lhe incutido o gosto pela leitura. “Por isso, estou sempre acompanhando as atividades junto ao livro. Quando eu vejo lá em casa os Lusíadas, eu lembro dela, que exigia o estudo de todos os cantos. Nossa… Valeu!”, afirmou Luiz Octavio.

“Vossa Excelência o livro. A Humanidade deve muito ao livro”. Essa frase, dita pelo empresário durante uma entrevista para a 8ª. Feira do Livro de São Joaquim, diz muito sobre o legado deixado em sua alma pelos professores do Otoniel Mota. Hoje, Luiz Octávio não acredita em mundo melhor sem livros e leitores. Essa crença que o faz ser um incentivador de eventos como as Feiras do Livro de Ribeirão Preto e de São Joaquim da Barra, além de patrocinar a publicação de várias obras.

Sobre os anos vividos no Otoniel Mota, lembrou ainda da efervescência política vivida durante o governo de J.K. e do “fenômeno Jânio Quadros”. E era nesse clima que ocorriam os debates no Parlamento, normalmente aos finais de semana. “Os alunos viviam e era muito interessante”. Como outros contemporâneos, como Feres Sabino e Sérgio Roxo, Luiz Octávio também defendeu que esses debates devem voltar à escola, como forma de torná-la viva, envolvendo os alunos na discussão sobre assuntos políticos da atualidade.

“Eu agradeço muito o que eu recebi no Otoniel Mota, tudo o que eu aprendi”. É baseado nisso que para Luiz Octavio a melhor forma de retribuir é justamente apoiando a escola, na comemoração pelos seus 110 anos. “É o mínimo que eu poderia fazer. Mas, poderia fazer mais”, afirmou. Para isso, acredita que o governo precisa desenvolver outros mecanismos que facilitem o apoio da iniciativa privada.

Luiz Octavio apoia projetos culturais realizados na escola.

Isso garantiria maneiras de participação de outros ex-alunos em ações de diversas escolas.

Terminou dizendo que o Otoniel Mota foi o seu exemplo. Foi lá que ele consolidou a certeza que “todo dia é dia de aprender”. Finalizou afirmando que a “escola está presente no dia-a-dia do cidadão, porque todo dia nós temos que aprender alguma coisa em todas as áreas do conhecimento. Todas”.

Como Camilo e Luiz Octávio, muitos ex-alunos retornam às suas escolas de origem com sentimento de gratidão. Cada um leva em sua bagagem aquilo que aprendeu e deseja compartilhar com as novas gerações. Outros exemplos como esses estão espalhados pelo Brasil, mas acreditamos que é possível aumentar esse envolvimento entre o cidadão e a escola, por meio do fortalecimento dos laços de pertencimento e da certeza que a educação é uma construção coletiva.

“Educar cidadãos e educá-los com maestria – partindo notadamente de uma concepção meritocrática -, é uma arte… um ofício, tão nobre quanto difícil, especialmente quando se consegue exercer este mister há 110 anos. Parabéns por perseguirem este ideal diurtuna e incansavelmente. Sinto-me honrado e profundamente agradecido por ter participado desta história de sucesso, como um dos muitos alunos que esta consagrada Escola forjou.”
Luiz Octavio Junqueira Figueiredo

Fonte: Capítulo do livro “Memórias de uma escola: 110 anos do Otoniel Mota” (2017), publicado pela Fundação do Livro e Leitura, através do patrocínio da Usina Alta Mogiana, de São Joaquim da Barra/SP. Para conferir a edição impressa na íntegra e baixar o e-Book na versão on-line, clique aqui.

A semente e suas flores

“Há flores por todos os lados…” – Titãs

*Por Claudia Maria Cantarella Silva

A primeira vez que participei da Incubadora Cultural foi em 2013, como revisora dos trabalhos de escrita dos estudantes participantes, e o livro editado em 2014, cujo tema era A Cultura brasileira, foi elaborado com textos e imagens de alunos somente da E.E. Otoniel Mota, instituição em que eu era professora de português e com cujos alunos o então projeto foi, inicialmente, trabalhado.

A escolha do Otoniel Mota não foi aleatória, ela veio da gratidão e da admiração que Dr. Camilo Xavier, idealizador do projeto e ex-aluno do colégio, nutria e ainda nutre pela tradicional escola, fundada em 1907 e tombada pelo patrimônio histórico. Dr. Camilo, um visionário, com a preciosa ajuda de duas professoras − Elaine Assolini, da USP de Ribeirão Preto, e Heloisa Alves, do Otoniel Mota −, desejou presentear o colégio, investindo nos alunos com o oferecimento da possibilidade de leitura, escrita e publicação dos textos por eles produzidos.

Hoje, a Incubadora Cultural abraça cerca de 25 escolas públicas, estaduais e municipais, bem como de colégios particulares da nossa região, com produções de imagens e textos de seus alunos que, todos os anos, veem seus trabalhos retratados num livro que os homenageia.

E eu me sinto muito honrada por ter sido convidada, há 10 anos, pela professora Heloisa Alves, para integrar essa iniciativa com a qual aprendo mais, a cada ano, a cada texto revisto, sobre como pensa, sente e floresce a criança e o jovem das escolas de nossa cidade e de localidades vizinhas.

*Claudia Maria Cantarella Silva é doutoranda em Estudos Literários, pela Unesp de Araraquara; revisora dos textos dos alunos para o concurso literário da Incubadora Cultural, desde 2013.

Educação em pauta

Ilustração: Leonardo Scarulis

Por Camilo André Mercio Xavier*

A educação deve ser considerada como a formula mais eficaz de promover desenvolvimento sustentável â população.

O projeto Incubadora Cultural iniciado em 2013 foi instalado em parceria com a E.E. Otoniel Mota, como ex-aluno da conceituada instituição de ensino, quis a ela retornar, na condição de Professor, visando voluntariamente tentar retribuir o que dela recebi, no período escolar. Imbuído do espírito de contribuir de alguma forma a todos os ensinamentos que recebi na minha vida escolar, toda ela na rede pública, após minha aposentadoria como Professor Titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), criei um projeto que denominei Incubadora Cultural destinado aos alunos do curso médio da escola Otoniel Mota, do qual fui ex-aluno.

Historicamente, tal atividade foi exercida primeiro através dos projetos Ribeirão Cultural e da Arca Cultural, lançados em 2010 e 2012. A seguir tendo em vista expandi-lo procurei o diretor da escola Otonel, na época Prof. Jorge Lemasson Azenha, para manifestar meu interesse em nele sediar o novo projeto, intitulado Incubadora Cultural, o que de fato ocorreu. Posta em prática tal atividade de natureza extra-curricular, foi desenvolvida através de oficinas pedagógicas e ciclo de palestras com frequência mensal.

A partir daí muita coisa boa foi acontecendo, e como diz o velho ditado: “o bom fruto não cai longe do pé.”

Graças a múltiplas tratativas o referido programa foi considerado como de extensão universitária e, assim, enquadrou-se no espírito de parceria com a rede pública de ensino e obteve o apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo (USP), por um determinado período e a seguir obtivemos o importante apoio de clubes de serviço da cidade, como o Rotary e no setor gráfico da Funpec, configurando importantes e fundamentais ajudas, que tornaram possível a edição de alguns dos livros abaixo listados:

“Ribeirão Cultural – Poesia na Vida e para Vida – Iniciação Poética – Vol.I (2010); “Ribeirão Cultural – Poesia na Vida e para Vida – Iniciação Poética – Vol.II” (2012); “Incubadora Cultural – Construção Literária e Documentação” (2014); “Incubadora Cultural: a FRMP-USP e o GEPALLE-USP abraçam as Escolas da Rede Pública” (2019); “Incubadora Cultural 2020, e agora?”, seguidas pelas edições digital e impressa; “Recomeços” (2021); e “Fincar os Pés” (2022).

Ao rever o trajeto percorrido, podemos afirmar que, ao passar do pontual para o permanente, o fato de criar uma plataforma de trabalho de uso comum, entre professores e alunos, consolidou-se e validou o conceito voltado para a produção e a distribuição de conhecimentos de forma consistente e produtiva.

Enxergar o aluno não só como sujeito passivo, mas como uma peça ativa do processo educativo sempre foi e é uma das metas que nos propusemos alcançar.

Conseguimos ao longo do tempo a publicação dos oito livros acima citados, que divulgaram a produção literária dos alunos.

Ficou claro que a Incubadora Cultural foi concebida como uma estrutura capaz de estimular através da leitura e da escrita, produções literárias entre os alunos do curso médio. Neste ano participam 25 escolas da cidade de Ribeirão Preto e da região.

Para dar continuidade ao projeto, o rico acervo artístico literário existente será divulgado semanalmente, pelo site.

Além dessa tarefa, a plataforma digital especialmente criada vai atuar dentro de um formato compatível com a relevância intelectual dos temas tratados, A escolha dos temas, renovados anualmente foi feito de modo cuidadoso, permitindo ao público alvo o incentivo capaz de motivá-los.

O êxito da empreitada foi obtido graças aos esforços e à dedicação de uma plêiade de professores entre as quais destacamos as participações de Filomena Elaine Paiva Assolini, Profª Dra. da Faculdade de Ciências e Letras da USP; Heloisa Martins Alves, docente da E.E. Otoniel Mota; Cláudia Maria Cantarella Silva, doutoranda em Estudos Literários pela Unesp de Araraquara e revisora dos textos dos alunos da Incubadora Cultural desde 2013, artífices do conjunto das realizações, a quem devo creditar o sucesso obtido.

Por fim, quero expressar minha esperança de que o projeto não sofra interrupções, e continue sua vitoriosa caminhada.

*Prof. Dr. Camilo André Mercio Xavier é idealizador do Projeto Incubadora Cultural Ribeirão Preto. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras; e da Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto. Membro fundador da Academia Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.